quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cartilha e documentário sobre "Mãe Ilza Mukalê - Histórias e Saberes" serão lançados em Ilhéus


No mês da Consciência Negra, que é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, um projeto ousado lança, em Ilhéus, uma cartilha impressa acompanhada de um documentário em DVD sobre Mãe Ilza Mukalê - Histórias e Saberesno próximo dia 27, às 19h, Terreiro de Matamba Tombenci Neto. O projeto foi pensado para contribuir, com conteúdo, para a aplicação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que visam incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Parte dos exemplares será doada para escolas públicas e bibliotecas da região, possibilitando o acesso às informações compartilhadas por Mãe Ilza, referência do Candomblé Angola-Congo na região.

O projeto é fundamentado na tradição da oralidade como matriz principal. "Participei de oito rodas de conversa abertas ao público em novembro e dezembro do ano passado. Assim, pude falar sobre coisas que não estão registradas em outros lugares, como histórias da minha família, aspectos do Candomblé Angola-Congo", explica Mãe Ilza. A matriarca comemora o lançamento da cartilha e do documentário e diz: "espero contribuir para que alunos, professores de escolas públicas e privadas saibam mais sobre esses assuntos".

A Profª Drª Ana Cláudia Cruz da Silva, do grupo de pesquisa do Laboratório de Ensino, Pesquisa, Extensão, em Ciências sociais, Educação e Saberes, da Universidade Federal Fluminense, mediou algumas rodas de conversa e realizou a assessoria pedagógica do projeto, compilando todas informações compartilhadas por Mãe Ilza, para adequá-las ao formato da cartilha. Segundo ela, "Mãe Ilza falou da história do Terreiro, que é também a sua própria história; dos mitos dos inquices; da culinária, das plantas, da vestimenta e dos adereços utilizados no candomblé angola; dos antigos e dos novos carnavais; da música, das danças e dos ritmos presentes nas festas do candomblé e que inspiram os afoxés, os blocos afro, os balés afro e tantas manifestações ar­tísticas e culturais que também são movimentos negros".

Com 10 minutos de duração, o documentário que vai acompanhar a cartilha foi realizado pelo comunicólogo Flávio Rebouças, que registrou momentos corriqueiros da comunidade e também de festas religiosas no terreiro, além de mencionar fotografias do arquivo do Memorial Unzó Tombenci Neto e imagens mais recentes. "Diferentemente da cartilha, no documentário a narrativa é da própria Mãe Ilza, que conclui o sentido que foi introduzido na cartilha, e abre outras janelas, de temas que devem ser mais aprofundados nas próximas publicações", comenta Rebouças.

Neste primeiro momento, foram feitas 500 cópias do DVD e a cartilha teve uma  tiragem de 1.000 exemplares. Metade de cada será doada para escolas públicas, bibliotecas e para a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), patrocinadora do projeto. A outra metade será vendida a R$10, para contribuir com a sustentabilidade das ações socioculturais do Terreiro. "A intenção agora é mobilizar recursos e estabelecer outras parcerias visando novas edições com maior tiragem para atingirmos um número maior de escolas, já que falar da história do terreiro é também falar da história do Brasil", afirmou o coordenador técnico do projeto, Edson Ramos.

A cartilha Mãe Ilza Mukalê - História e Saberes foi publicada pela editora Mondrongo e tem ilustrações assinadas por Quinho Fonseca. A coordenação geral é de Gilmário Rodrigues e tem Glauce de Souza como assistente de coordenação. O projeto  é uma iniciativa da Organização Gongombira de Cultura e Cidadania e da Rede Matamba Tombenci Neto e foi contemplado pelo Edital nº 07 / 2012 - Culturas Identitárias - da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Para mais informações, acesse: www.matambatombencineto.blogspot.com e  www.maeilzamukale.blogspot.com


Serviço

O quê: Lançamento da cartilha didática e do DVD com documentário Mãe Ilza Mukalê - Histórias e Saberes
Quando: 27 de novembro, às 19h
Local: Terreiro de Matamba Tombenci Neto, no Alto da Conquista, em Ilhéus
Aberto ao público


Ascom do projeto Mãe Ilza Mukalê - Histórias e Saberes

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Nega Vida prepara abará no Terreiro de Matamba. Veja fotos!

Você já viu como se faz abará? Nessa sessão de fotos, mostramos Nega Vida, a Kifunbeira (cozinheira oficial) do Terreiro de Matamba, fazendo o quitute. Não é bem a receita que mostraremos, afinal, todo chef tem seu segredo. Aqui, mostramos o processo de enrolar o abará na palha da bananeira e também a maneira peculiar de cozinhá-lo. 

As fotos foram feitas por Tacila Mendes, no dia 15 de dezembro, por ocasião da última roda de conversa com Mãe Ilza. 

> O dendê é personagem principal! E lá se foram quase três litros...




> Lá é assim: todo mundo ajuda de algum jeito, nem que seja conversando para distrair o tempo...


> Essa é Nega Vida, a kifumbeira, feliz da vida fazendo o abará. O quitute foi a merenda dos participantes da roda de conversa! 


> Observe o passo a passo do processo de enrolar o abará. Nega Vida faz isso com tanta habilidade que em pouco tempo mais de 100 abarás foram enrolados e eu nem vi!










> Tá acabando, raspa a panela! É muita gente pra comer!




> Olha aí tudo prontinho!

> Ah! E teve a pimentinha para acompanhar!


> O processo de cozimento é interessante: Nega Vida explicou que é colocado pó de serra dentro de uma lata, depois coloca-se a grelha sobre a lata. A abará é cozido uniformemente e rápido!







> E olha... Na hora de comer, todo mundo lambeu os dedos! Pode repetir, isso é normal!



> Gostou? Tem festa no terreiro no final do mês! Agende-se para os festejos religiosos dos dias 26, 27 e 28 de janeiro, à noite, no Terreiro!

Até lá!

Tacila Mendes


sábado, 5 de janeiro de 2013

Como foi a última semana das rodas de conversa com Mãe Ilza Mukalê?

Ficamos devendo a postagem da última semana dos encontros com Mãe Ilza. Aconteceu tanta coisa, tantos aprendizados, que vamos tentar contar aqui sem a pretensão de detalhes, mas podemos, sem dúvida, dizer: quem não foi perdeu! Mas calma, que tudo o que foi compartilhado vai ser sintetizado e vai para a cartilha, que já está em produção.

No 7º encontro, o tema abodado foi: "Mãe Ilza Mukalê e o Tombeci Neto: uma história feita de movimentos negros". A profª Drª Ana Cládia Crus da Silva, da Universidade Federal de Niterói, RJ, iniciou o encontro contando sobre os movimentos negros, a resistência e atos de resistência, da força da cultura negra que, mesmo depois de toda história de sofrimento emerge com todo o seu brilho, mantendo suas raízes. Lembrou-se dos blocos de índios que antecederam os blocos afros. 


Profª Ana Cláudia



Mãe Ilza, por sua vez, lembrou-se do início do bloco afro do Matamba, de como foi a escolha do nome e de que foram eles que criaram o primeiro bloco da cidade. A história de Mãe llza, é sempre associada à história do Tombeci e, por si só, já é de resistência e de movimento vivo. 
No momento de intervenção, a música tomou conta do Terreiro. As mulheres levantaram-se e dançaram com grande habilidade mostrando como era a dança no bloco afro.







ÚLTIMO ENCONTRO: A música das religiões de origem africana no Brasil 

Uma curiosidade para quem não entende: macumba é um instrumento musical parecido com o reco-reco! Marinho  Rodrigues, que conduziu o encontro dessa tarde, introduziu o tema já mostrando nomes e fatos interessantes sobre a música de origem africana.

A Macumba - quem toca é o Macumbeiro
Outras curiosidades: atabaque é um nome de origem árabe e é o mesmo que as "engomas" na linguagem Bantu. Quando Mãe Ilza entra no salão do Terreiro dançando, ela segura a adija (abaixo).


Marinho, que é um Tata Kambondo, ou seja, responsável por tocar os instrumentos do Terreiro, disse que é difícil para os homens que exercem essa função gravarem músicas em estúdio, pois aí faltam as referências, os elementos das festas, as danças, a energia. Ele lembrou-se também que, quando era jovem, nas festas, quando os mais velhos ficavam cansados, passavam o instrumento para ele tocar, aí a animação continuava, com os toques para caboclos!

Marinho mostrando como toca o instrumento

As músicas (zuelas) são todas gravadas na memória e passada de geração em geração. Por fim, Mãe Ilza concluiu: "para mim todo pai ou mãe de santo é cantor. E cantamos no gogó!"

Veja as fotos de todos os encontros clicando AQUI:


Ascom